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Três plantas medicinais mais comuns e de grande utilidade no mato.

As mazelas mais comuns em campo são os pequenos cortes e arranhões, os entorses e inflamações  e as constipações. No entanto, o mato dá, e o mato tira, e é comum encontrarmos por perto plantas vulgares que também são muito eficazes a resolver estes problemas.

As Malvas (Malva sylvestris)
Esta planta é composta por mucilagens, que apresentam propriedades emolientes (suavizante da pele e mucosas inflamadas) e laxantes suaves. Também contém taninos, com efeito regenerador dos tecidos, flavonóides e óleo essencial, com acção antibiótica e antioxidante.
É principalmente como anti-inflamatória que é mais usada. Uma infusão das suas folhas aplicada no local de uma inflamação faz reduzir o inchaço, e pode ser usada tanto externamente como internamente, no caso de inflamações bucais, do sistema respiratório e digestivo.

Malva sylvestris

fonte: flora-on.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tanchagem (Plantago major)
A tanchagem é o penso rápido do mato. O seu modo mais frequente de uso é ou mastigando ou aquecendo umas folhas junto das brasas e aplicar em cataplasma sobre uma ferida, arranhão ou picada de insecto. A saliva também tem propriedades antibacterianas e ajuda a evitar infecções, e nem sempre temos uma fogueira disponível.
É facilmente identificavel pelos seus veios paralelos, pronunciados na face inferior da folha, que quando se rasga apresenta uns filamentos no seu interior.
É das plantas mais comuns nos relvados, junto com a relva e o dente-de-leão.

 

Plantago major

fonte: flora-on

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Salgueiro-branco (Salix alba)
Apesar de todos os salgueiros, e mesmo os choupos, possuirem ácido acetil-salicilico, a base da aspirina, é no salgueiro branco que vamos encontrar a maior concentração.
Com uma faca retira-se um quadrado da casca do tamanho da palma da mão, para obter a casca interior de cor avermelhada, entre a casca de fora, mais rija e castanha, e a madeira mais clara, que é onde se concentra o ácido. Colocam-se então esses pedaços em água a ferver uns bons 20 minutos até que esta fique com um tom avermelhado, deixa-se arrefecer e normalmente junta-se um pouco de mel (o sabor, como a aspirina, não é dos mais agradáveis), ficando pronto a beber.
Tal como a aspirina, não se deve abusar dele, mas um copo cheio é suficiente para acalmar a maioria das dores.

Deve sempre tomar-se cuidado para não danificar as árvores de onde extraímos remédios, tirando apenas o essencial e deixando a árvore repousar durante um ano, para que se recomponha.

Além destes, que mais remédios naturais costumas usar? Deixa-nos e aos outros leitores a tua sugestão na caixa de comentários.

Com os votos de um Feliz Natal, vemo-nos no ano que vem!

Pedro Alves

 

3 plantas comestíveis de inverno, abundantes e fáceis de identificar em segurança.

De inverno é sempre mais complicado encontrar comestíveis selvagens, no entanto algumas espécies encontram-se no seu melhor precisamente nesta altura. Vejamos alguns exemplos.

Rosas
Todas as rosas são comestíveis, principalmente os botões, que são mais saborosos,  mas também as folhas. São ricas em vitaminas A, B, C, E e K, cálcio, silica, ferro e fósforo, carotenos e bioflavenoides antioxidantes.
Apesar das variedades domésticas terem várias pétalas – e estas são de evitar porque não só são menos saborosas como normalmente são tratadas com adubos e pesticidas – as selvagens têm apenas 5 pétalas. Mas são os botões de rosa a comida de inverno de excelência.
Têm um sabor semelhante a maçã cruzada com ameixa.
O único cuidado a ter é em retirar as sementes, que podem irritar os intestinos, e que devem ser enterradas para garantir a continuidade da planta.
De resto é fácil de identificar pelos seus espinhos e botão carnudo, de um vermelho ou laranja vivos.

rosa rubiginosa

fonte: flora-on.pt

Tabúa (Typha latifolia)
Se já viste desenhos animados conheces esta planta. É uma invasora que cresce um pouco por todos os cursos de água, facilmente reconhecível pelo seu escape floral que faz lembrar uma salsicha no espeto, e que é uma característica inconfundível.
Tanto o seu talo pode ser comido como alho-francês como a sua raiz, que se retira relativamente bem de dentro de água à mão, pode ser cozinhada para ser consumida de imediato ou transformada em farinha.
Sendo uma planta filtradora, é preciso alguma cautela com o local de onde se recolhe, porque se a água estiver contaminada, a planta também estará.
De resto é uma excelente fonte de alimento, além de proporcionar acendalhas, corda das folhas, isolamento térmico das sementes e até varas de flecha improvisadas a partir dos seus escapes.

Dente-de-Leão (Taraxacum officinale)
Encontrado frequentemente em todos os relvados, prados e zonas abertas, é uma planta muito comum. Todas as crianças adoram soprar as suas sementes ao vento. É consumida desde a pré-história e todas as suas partes são comestíveis, das folhas cruas em saladas às flores que fazem uns magníficos hamburgers vegetarianos e às raízes que produzem um substituto do café.
Pode confundir-se à primeira vista com outras plantas semelhantes, mas o dente de leão cresce a partir de um ponto central em roseta, e tanto a flor como a semente crescem num pé único e sem pelos.

Taraxacum officinale

fonte: dreamstime.com

O mundo das plantas comestíveis é apaixonante, e o seu conhecimento um contributo valioso para aligeirar o peso da mochila e para uma maior comunhão com a natureza, assim como uma vida mais saudável.
No entanto as plantas não vêm com códigos de barras, pelo que antes de te aventurares na sua apanha deves aprender a faze-lo com quem saiba.
Se quiseres uma introdução ao tema, porque não inscreveres-te no próximo passeio da Escola do Mato?

Já encontraste estas plantas antes? Sabes onde elas crescem nas tuas redondezas? Partilha connosco e com o resto dos leitores na caixa de comentários.

Até para a semana, vemo-nos no mato,

Pedro Alves

Escolher as calças mais adequadas para o mato sem ficar falido.

 É normal discutirmos equipamento com os nossos alunos quando estamos no mato. Se já vieste a um dos nossos cursos sabes que aconselhamos calças militares, porque secam rápido e são robustas, e de longe melhores que as calças de ganga. Mas para mim as calçar militares têm o defeito de serem na sua maioria camufladas, e pessoalmente não aprecio o padrão. Gosto de tons oliva e terra, que me permitam minimizar o impacto visual da minha presença, mas o camuflado remete para uma actividade que tem muito pouco a ver com o que estou a fazer no mato.
Há que reconhecer que o material militar é feito para durar e ser eficiente, resistindo a quase tudo o que o mato lhe atire, o ripstop é fácil de remendar, é pouco propenso a abrir buracos com as fagulhas da fogueira, aguenta bem o tempo que passo de joelhos ou sentado em cima de um tronco e muitas vezes são reforçados nas zonas de maior abrasão.
São calças práticas que têm a vantagem acrescida de ter bolsos de carga para podermos transportar connosco equipamento essencial.
Mas com o tempo que passo no mato, sinto que tenho necessidades específicas que o material militar – mesmo quando consigo encontrar versões não-camufladas que goste – não cumpre completamente. Ou são demasiado frescas e frágeis ou demasiado robustas e pesadas, ou ainda parece que cabem dois de mim em cada perna.
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© Escola do Mato 2013

Existem várias opções ainda assim que me parecem bastante adequadas.
Tive oportunidade de experimentar o G-1000 da Fjallraven, que é soberbo, a Craghoppers fabrica material de grande qualidade, para citar alguns exemplos de valores distintos, e como estas existem muitas outras marcas conceituadas de equipamento de outdoor. Só que no equipamento de outdoor não-militar, ou ele é bestialmente caro ou é feito em série do modo mais barato possível, ou é completamente sintético, deixando um leque de opções eficazes muito reduzidas, se não queremos ir para o mato com medo de rasgar umas calças que nos custaram uma pequena fortuna.

Quero umas calças quentes no inverno e frescas no verão, robustas e leves, e ainda por cima baratas!

Se não se vende o mais adequado para mim, então resta-me fabricar eu o mais adequado.
Neste momento estou a usar umas calças com um corte que me agrada, que me dão liberdade de movimentos sem serem um saco de batatas, 65% algodão e 35% poliéster, que é uma boa combinação para robustez e secagem rápida. Possuem cordões ao fundo das pernas, o que me permite controlar o fluxo de ar e regular a temperatura. Como foram relativamente baratas (cerca de 12 euros), compensa-me aplicar eu os reforços na traseira e nos joelhos (pode até incluir um bolso para uma almofada), mesmo que seja adquirindo um segundo par para recortar e usar as sobras para sacos de equipamento. Em tempo húmido aplico uma receita pessoal de impermeabilizante à base de cera de abelha que protege o tecido e o torna bastante hidrofóbico em maior ou menor grau conforme a aplicação, com a opção de reforçar apenas nas zonas que fiquem mais expostas à chuva ou erva molhada e mantendo o tecido respirável nas outras, mas que sendo lavado a quente na máquina torna as calças de novo respiráveis, prontas para o tempo mais quente.
Como complemento final costumo cozer uns zippers de lado na costura, entre o fundo dos bolsos e o topo do bolso de carga para poder abrir enquanto caminho e não deixar que as pernas aqueçam demasiado, libertando calor e humidade.
Fico assim com um equipamento que, até ver, me proporciona a maior versatilidade de acordo com as minhas necessidades específicas.

Fica a minha sugestão de equipamento, e não deixem de partilhar na caixa de comentários as vossas experiências com outras marcas, porque nunca a procura das calças perfeitas para o mato não tem fim!

Até para a semana, vemo-nos no mato,

Pedro Alves

 

Tratar bem dos pés para que nos levem mais longe!

Uma das primeiras coisas que devemos fazer quando chegamos a campo é tirar as botas e as meias e deixar o pé arejar. Evitamos assim a acumulação de humidade no pé, que na ausência de movimento nos vai fazer arrefecer – isto é ainda mais importante se a noite estiver a cair – e também damos mais tempo para que as botas libertem alguma humidade enquanto ainda estão quentes da caminhada.

Sempre que possível, levamos um calçado de noite, algo leve mas que nos mantenha o pé livre de nos aleijarmos ao pisar algum pau ou pedra enquanto tratamos da nossa rotina de campo.

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foto: http://www.sxc.hu

Devemos então perder algum tempo a cuidar dos nossos pés. Massajar bem o pé para facilitar a circulação que o aperto da bota tenha condicionado, limpar o melhor possível a humidade, cuidar de alguma mazela como calos e bolhas que se tenham formado durante a caminhada, colocar algum pó de talco, que absorva a humidade residual e nos ajude a manter os pés quentes, confortáveis e limpos.
Os cuidados com os pés não devem ser protelados porque se podem agravar a uma velocidade assustadora, e tal como qualquer outro problema em campo, deve ser abordada a situação o mais rápido possível para podermos continuar com a nossa vida.

Afinal são os nossos pés que nos vão tirar dali no dia seguinte, pelo que é essencial que cuidemos bem deles. 

A grande tendência quando trocamos de calçado é trocar também de meias. No entanto se só tivermos dois pares, é preferível aguardar até à hora de ir deitar para as calçar, para evitar que também as novas meias ganhem humidade. Umas meias secas podem fazer toda a diferença entre uma noite bem dormida e uma terrível. Se for preciso, voltem a calçar as meias de caminhada até chegar a hora de ir deitar, e só então troquem para umas secas. Se estiverem demasiado húmidas é sempre possível secar as meias junto ao fogo o suficiente para poderem ser calçadas de novo, enquanto aquecem também os pés na espera.
No dia seguinte, mesmo que as meias ainda estejam húmidas, é preferível descalçar as meias de noite e voltar a calçar as de dia, que o calor do movimento da caminhada tratará de aquecer, garantindo assim que temos sempre um par de meias seco para a noite.

Se tiveres mais conselhos, truques e dicas, não deixes de os partilhar na nossa caixa de comentários.

Até uma próxima vez, vemo-nos no mato,

Pedro Alves

 

Assim que começam a dar os primeiros passos, o mato deixa de ser apenas um ambiente saudável para ser todo um mundo a descobrir.
A criança tem um lauto repasto sensorial à sua disposição, de formas e texturas, cores, sons e sensações. É também a altura de maior esforço, quer ao nível da quantidade de equipamento que temos que carregar para este novo companheiro de aventuras como na necessidade de um bom planeamento para suprir as suas necessidades.

Os primeiros passos

A  mais óbvia vantagem de acampar com filhos nesta idade é que já estabeleceram as suas rotinas de sono, o que nos permite também a nós descansar, e já comem melhor, muitas vezes sozinhos, sendo que acabar sopa espalhada por todo o lado não é tão grave no meio de um pinhal quanto no meio da cozinha que acabou de se limpar.
Por outro lado o serem capazes de levar coisas à boca sozinhos – e o meter coisas na boca faz parte do processo de exploração- num ambiente com tanta coisa que pode ser engolida, requer uma atenção constante ao pequeno. Existem coisas que não faz mal nenhum que ponham na boca, mas é sempre melhor se formos nós a  decidir o que é que está ao alcance das mãos e bocas dos pequenos exploradores.

Naquela fase em que ainda gatinha e começa a dar os primeiros passos é importante que haja uma zona de conforto segura e limpa, e a maneira mais fácil de proporcionar este ambiente é usar a tenda. As colchonetes e os sacos-cama dispostos no chão, com a manta por cima para evitar que estes fiquem encharcados em baba, fazem uma área abrigada, fresca e arejada, onde o bebé se pode sentir seguro e pode brincar com os seus objectos preferidos, dando-lhe uma sensação de familiaridade e conforto, que pode até levar naturalmente à sesta. A abertura ampla da tenda permite um bom contacto visual com os pais, e permite também que estes consigam manter algum controlo sobre o que acontece lá dentro, deixando margem para algum relaxamento.
Não obstante, a ideia é que o levem a explorar, e não que apenas o mudem para uma versão mais pequena do seu quarto.

Em campo surge pela primeira vez uma mudança de rotinas que o bebé pode estranhar. No entanto não se trata de falta de rotinas, pois qualquer pessoa que acampe sabe que as rotinas de campo são essenciais para o seu conforto, para que possa despachar rapidamente as tarefas necessárias e tenha mais tempo para descansar.
Enquanto que a comida, desde que se mantenham os horários, não provoca uma alteração radical na rotina, o banho e o dormir são outro assunto mais complexo.
É possível dar banho em campo. O bebé cabe bem num alguidar colapsável e é simples aquecer uma água para a temperatura de conforto. O maior problema é mesmo conseguir fazer isto num ambiente de temperatura adequada, o que nem sempre é possível dada a altura do ano e condições atmosféricas. O avançado da tenda, se for fechado, cria um microclima suficiente para que se dispa o bebé na tenda, se passe para o banho no avançado e se volte a meter na tenda onde o aguarda a toalha e a roupinha da noite, mas é uma tarefa que normalmente requer uma boa divisão de tarefas pelos dois progenitores para minimizar o tempo de exposição.
É preciso ter também algum cuidado com a água, que a entornar-se para dentro da tenda pode transformar uma noite de descanso numa experiência pouco agradável.
Mas se tudo for bem coordenado, o bebé sai da tenda para o banho quentinho – o que lhe vai saber bem e ajudar a relaxar depois de um dia intenso de descoberta – e do banho para a tenda e as suas roupinhas, a sua fralda e boneco favoritos e por fim o leite quente antes de dormir.
Não esquecer da importância que há nesta hora crucial do objecto que remeta para o conforto do lar e da sua cama, pois vai fazer toda a diferença.

Por fim, e porque nesta idade o bebé já passa algum tempo “sozinho”, sem estar em contacto físico com um dos pais, temos que ter mais atenção com a protecção contra os bichos. Enquanto que uma melga à nossa volta nos alerta para a chegada da hora de por repelente, o bebé por ele não se sabe queixar, nem se apercebe muitas vezes da presença do insecto. Portanto é de também aqui criar uma rotina: assim que começa a anoitecer e depois do banho, aplicação do repelente. Este pode ser reforçado nas paredes da tenda e na própria roupa do bebé, para evitar um excesso sobre a pele.

Bons passeios e vêmo-nos no mato,

Pedro Alves
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Levar crianças pequenas em actividades de outdoor tem inúmeras vantagens para o seu desenvolvimento e para o fortalecer das relações afectivas, mas tem dificuldades inerentes que podem fazer um pai renitente em embarcar nestas aventuras enquanto os miúdos são ainda “muito pequenos”.

Bebés no mato

Vamos começar por nos lembrar de que vamos sair porque gostamos de sair, e queremos que o nosso filho partilhe dessa alegria que só encontramos perante os grandes espaços abertos. Os bebés são uns bons detectores de estados de espírito, e vão perceber rapidamente se a nossa viagem é carregada de ansiedade por levarmos connosco essa acrescida responsabilidade, e rápida e ruidosamente partilhar dessa emoção. Se formos felizes, eles irão felizes.

Depois existem algumas limitações quanto ao que podemos fazer com um bebé ao colo. Vamos carregar peso extra, precisar de paragens frequentes para comida, higiene e exercício do pequeno, e estes factores são de ter em conta ao escolhermos a dificuldade, duração e destino das nossas saídas, assim como as necessidades dos que nos acompanham. É preferível optarmos por percursos e actividades com os quais nos sintamos confortáveis, porque se vão tornar mais duras.

Acampar com um bebé não é complicado fisicamente, mas pode ser um desafio mental, se não estivermos com a adequada disposição de espírito. Não nos podemos esquecer de que muitas vezes acalmamos o bebé com uma volta pelo quarteirão ou uma viagem de carro, e estaremos apenas a multiplicar este efeito. Apesar da quantidade extra de roupa e equipamento, o facto é que já naturalmente carregamos mais do que a criança necessita no dia-a-dia (sim, bem mais do que realmente é preciso “só para o caso de ser preciso”), e tudo isto são coisas pequenas que ocupam pouco espaço na mochila. Uma ponderação realista sobre as necessidades do bebé vão permitir-nos carregar apenas o essencial e resolver algum “acidente” improvisando com o nosso próprio equipamento. A nossa camisola polar é tão eficiente quanto a mantinha que foi bolsada e seca nas costas da mochila.
Além disso um bebé é portátil e fácil de entreter.

Mas existem problemas reais com os quais lidar, sendo que o primeiro deles é o sono. Se tiveram filhos como os meus, que não dormiram os primeiros dois anos de vida, não vai miraculosamente ficar melhor em campo. Mas é algo com que temos que lidar, e compensar com o ar puro e a paisagem magnífica, que sempre é melhor que o canal de compras às 5 da manhã no sofá da sala.
Tenham em conta mais uma vez os companheiros de percurso, que podem não ter a natural tolerância paternal para a privação do sono.
Depois existe o problema da regulação térmica. Um bebé ainda não regula bem a sua temperatura corporal e vai sempre precisar de mais uma peça de roupa que nós em tempo frio, ou de ser resguardado do calor.

Tudo o resto será tal-e-qual como em casa: um pequeno kim-jong-il que precisa de atenção (leia-se paragens no caminho) pelo menos a cada uma ou duas horas, comida, higiene, fraldas, ginástica.

Uma grande vantagem aqui para as mães que amamentam: o alimento do pequeno não carece de preparação e está sempre quente e a horas.

Há um ditado que diz que quando o primeiro filho engole uma moeda corremos para o hospital, com o segundo damos um laxante e controlamos a saída e que ao terceiro descontamos na mesada. Enquanto que é normal num primeiro filho um excesso de higiene, não nos podemos esquecer que em campo não temos a poluição nefasta das cidades, e que uma mão suja de terra que vai à boca pode não só não ser mau como ainda ser benéfico para o desenvolvimento do sistema imunitário da criança.

Agora peguem na criança, vão lá para fora e divirtam-se juntos!

A seguir falaremos de acampar na idade seguinte, a dos primeiros passos.
Até lá, vêmo-nos no mato.

Pedro Alves
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Foto ©Ricardo Perna

Diz-se nas artes marciais que a melhor maneira de evitar um golpe é não estar lá.

O mesmo principio se aplica quando vamos fazer qualquer actividade de outdoor e queremos evitar uma situação desagradável, o ideal é não nos pormos a jeito para que a lei de murphy entre em acção cumprindo umas básicas regras de segurança.

1.Planear a viagem

Parece óbvio, mas o facto é que frequentemente descuramos este aspecto, que é dos mais importantes. É tão simples como olhar para um mapa e fazer uma estimativa do percurso, antecipar os locais onde potenciais problemas podem acontecer e prepararmo-nos para eles, seja procurando rotas alternativas seja adestrando o equipamento para sermos capazes de os superar.
O plano de viagem, além dos obstáculos pelo caminho contempla ainda os próximos pontos do código de segurança de outdoor:

2.Avisar alguém

Por onde vamos, quanto tempo presumimos demorar e quando estaremos de volta. Idealmente deixamos o nosso plano de viagem com duas pessoas, para que em caso de algo de inesperado acontecer haja quem possa alertar as equipas de socorro no pior dos casos, ou de nos ir buscar caso seja preciso. O facto de se deixar o plano com duas pessoas permite uma redundância que garante que haverá mesmo alguém a contar com o nosso regresso. Só não se esqueçam de avisar quando voltarem.

3.Ter consciência do tempo

Não apenas do clima, obviamente que é importante saber de antemão com o que vamos contar a nível climatérico para que nos possamos equipar adequadamente, mas com o tempo que vamos demorar. Por hábito estimamos por baixo o tempo que demoramos a fazer percursos na natureza porque não contamos com o cansaço acumulado, a dificuldade de progressão pela irregularidade do terreno, ou apenas com o que perdemos maravilhados com aquela paisagem única.
É assim importante que estejamos conscientes do nosso ritmo de progressão no tipo de ambientes em que nos deslocamos, e dar tempo para apreciar a viagem, e se não temos essa experiência, mais vale estimar por cima, dando uma boa folga, para não sermos surpreendidos pelo cair da noite antes do final do nosso percurso.

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Foto ©Ricardo Perna

4.Conhecer os seus limites

Termos uma boa noção do que somos ou não capazes de fazer, não tanto para que possamos explorar esses limites mas para que possamos manter um ritmo confortável, para podermos apreciar a actividade em si.
Compreendermos também o grau de dificuldade da actividade a que nos propomos, assim como os sinais que antecipam algum problema mais sério, como a desidratação, a exaustão ou a hipotermia.

5.Levar mantimentos suficientes

Garantir que além dos alimentos planeados para a viagem levamos algo extra para alguma eventualidade inesperada pode fazer a diferença entre esperar por socorro com algum conforto ou em agonia. A água é da maior importância de levar em quantidade suficiente, pois a sua falta irá condicionar rapidamente muitos factores fisiológicos, como a nossa capacidade de tomar decisões acertadas.

6.Levar um kit de sobrevivência

Compreendendo o que é uma situação de sobrevivência e como reagir perante uma, adestramos o nosso kit às necessidades específicas do local, do tempo que vamos demorar e do tempo que demora a sermos socorridos em caso de acidente.
Um kit de sobrevivência não precisa de ser a versão romântica à venda nas lojas mas algo tão simples como um apito e uma bateria extra para o telemóvel, porque a segunda regra da sobrevivência é dar a conhecer a quem nos procura onde estamos (a primeira é seguir este código).

Afinal somos os primeiros responsáveis pela nossa própria segurança.

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Foto ©Ricardo Perna

Bons passeios e vêmo-nos no mato,

Pedro Alves
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Vamos assumir que tomaram a decisão correcta ao decidir acender uma fogueira, seja qual for o motivo, e não nos vamos debruçar sobre esse tema, que ficará para outro artigo.

Mas como escolher o local ideal para uma fogueira?

Sempre que possível, o ideal é usar um local já designado para fogo. Muitas vezes são estruturas já pensadas em questões de segurança, localização, recursos disponíveis e comodidade. Muitos campos e parques têm uma zona de fogo delimitada por pedras, cuja função é de marcar claramente a zona de fogo e de impedir o alastrar da cinza, outras têm estruturas elevadas que permitem não queimar o solo e garantem um bom fluxo de ar ao fogo.

Mas muitas vezes no mato não há esse luxo.

Se vamos apenas fazer um fogo para cozinhar uma refeição, o local não precisa de ter mais que um palmo de largo. Devemos escolher um local abrigado de ventos fortes, idealmente em espaço aberto, livre de árvores, arbustos e vegetação aérea.
Uma plataforma de madeira verde no solo vai evitar que este “coza”, pois a duração do fogo não chegará para produzir calor suficiente. É também um bom método para, quando se faz um fogo na neve, evitar que este a vá derretendo e se enterre pela neve adentro. Uma plataforma de rochas também pode ser um recurso, mas é de ter muito cuidado com rochas com grande exposição a água, pois com o calor, alguma humidade no seu interior irá dilatar e a rocha pode literalmente explodir.
Em zonas de erva ou folhas secas, ainda assim, convém limpar o terreno pelo menos um metro em redor da zona de fogo, afastando a matéria morta até se ver o solo nu, mas de modo a que esta possa ser reposta uma vez findo o fogo.
Por fim não esquecer que do fogo não devem ficar nenhuns vestígios, e o local deverá ficar tal e qual o encontraram.

Os fogos de noite são mais complicados. Quer pela sua dimensão, tanto física como temporal, quer pela sua função, requerem sempre mais atenção à escolha do local.

Comecem por encontrar um local naturalmente abrigado do vento, onde irão ser minimizadas as fagulhas e onde se irá tirar mais partido do calor do fogo. De novo, escolher um local afastado de árvores, arbustos e vegetação aérea, mas com uma fogueira grande é preciso algum cuidado também com a vegetação subterrânea, nomeadamente raízes que se encontrem perto da superfície e que possam queimar sem nos darmos conta, agindo como rastilho lento e só deflagrando por vezes dias depois, quando finalmente tocam a superfície e entram em contacto com o ar.
Os fogos em zonas rochosas requerem sempre alguns cuidados, por causa do efeito explosivo de que já antes falámos.
Também é de evitar os fogos junto a paredes verticais, que apesar de proporcionarem boa refracção do calor vão ficar queimadas, e não deixam de ser solo vivo.
O local deverá ainda ter abundância de lenha disponível, para evitar que abandonemos o fogo para ir buscar mais, e muito bom será um local com água próxima que possa ser usada para extinguir o fogo.

Numa fogueira ocasional não é essencial o circulo de pedras, podendo ser a cinza contida com lenha mais grossa que se vai empurrando para o centro, mas se o fizerem não se esqueçam de o desmanchar no final do seu uso.

A última alternativa é o poço de fogo. Trata-se de um buraco aberto no solo com pelo menos um palmo de profundidade, em que a terra e coberto são cuidadosamente retirados de modo a que depois possam ser repostos.
Tem vantagens quando à concentração de calor, contenção do fogo e subprodutos e não perturba a camada superior mais sensível do solo.
No entanto é mais trabalhoso e solta o solo onde é feito, tornando-o mais sensível à erosão.

Evitar de todo fogos em zonas de turfa, que é altamente inflamável, muito próximo de cursos de água, onde as pedras são húmidas e zonas muito expostas ao vento por causa do perigo de incêndio.

Vamo-nos vendo pelo mato.

Fogo à chuva

Com bom tempo, qualquer palerma acende uma fogueira, já diz o ditado.
É nas piores alturas que se vê quem sabe realmente acender um fogo.
Felizmente o nosso quadradinho está bem provido de uma das árvores mais práticas para acender um foguinho quando está tudo encharcado: o pinheiro.

A primeira coisa a fazer é preparar o local onde vamos fazer o fogo. Como a primeira chama é algo frágil, convém que o local seja abrigado pelo menos durante a primeira fase, usando um poncho ou uma lona mesmo por cima do local do fogo. É importante que não nos caia chuva nas primeiras chamas.

Depois é preciso ir à lenha. Os ramos mortos dos pinheiros são excelente combustível. O primeiro indício de que o ramo está morto é a ausência de matéria verde nas pontas. O segundo e claro indício da sua morte é o característico “tak!” quando se parte. Os ramos vivos vão dobrar, ainda que ligeiramente, rejeitem esses.

Madeira morta em pé não significa necessariamente ainda agarrada ao tronco: desde que não estejam em contacto com o chão, servem perfeitamente.

Depois de recolhidos uns ramos valentes, e nesta coisa da chuva mais vale pecar por excesso, quando acharem que têm madeira suficiente, tripliquem a dose, só por segurança. É uma chatice quando está a chover a potes a primeira tentativa falhar por falta de alimento e termos que apanhar a segunda molha a ir recolher madeira de novo.

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Portanto temos os nossos ramos debaixo do abrigo. Uma sacudidela valente é mais do que suficiente para lhes retirar o excesso de água que os cubra. Como não estão em contacto com o chão, irão estar relativamente secos por dentro.

O processo de preparação é semelhante ao fogo de gravetos que pode ser encontrado aqui.
Uma base, para permitir uma boa entrada de ar e manter o fogo longe do chão molhado, a lenha separada por tamanhos de mina de lápis, lápis e polegares, em molhos que precisem das duas mãos para os agarrar. Se conseguirem, por uma questão prática, amarrem os freixes mais pequenos.

Uma ressalva aqui para o facto das raízes dos pinheiros crescerem perto da superfície e arderem tipo rastilho, reacendendo por vezes meses depois de termos feito o fogo. Havendo tempo, escavem um pouco para retirar alguma raiz que esteja por debaixo da zona de fogo e permitam que a chuva encharque bem o buraco antes de o tapar de novo.

Depois é a vez da acendalha, que deixamos para o fim para que apanhe o mínimo de humidade possível. Aqui é importante ter um bom molhe de feathersticks, com aparas bem finas e longas. Com alguma prática é possível fazer feathersticks que acendam com uma faísca, mas para já contentemo-nos com uma quantidade do tamanho de uma meloa. Depois de preparada a acendalha é altura de raspar um pouco de pinho resinoso, o mais vermelhinho que encontrarem e que cheire o pior a terbentina que conseguirem. Raspem-no até conseguirem um pó fino na quantidade de uma uva gorda, que mais uma vez é preferível pecar por excesso. Se conseguirem encontrar resina, ainda melhor, que o efeito é o mesmo e dura mais tempo. Tem é que ser bem pulverizado para pegar.

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Este pó irá acender com facilidade com algumas faíscas de um firesteel, e esta será a nossa primeira chama. Sobre esta chama vamos colocando muito gentilmente os feathersticks, deixando que a chama lamba a ponta das penas sem as depositar à bruta em cima da chama, abafando-a. Esta é a parte mais crítica do fogo. Assim que as penas ganham chama, é altura de passar aos gravetos.

Por esta altura, o calor da chama dos feathersticks será suficiente para secar o resto de humidade que ainda esteja agarrado ao vosso primeiro molhe tamanho mina de lápis. De novo, pega-se o molhe por cima da chama, apenas de modo a que esta venha lamber os primeiros gravetos, e assim se mantém até que a chama surja por cima do molhe. Podemos então poisar este molhe gentilmente em cima do fogo e repetir o processo com o segundo molhe. Nesta fase a fogueira já deve produzir um calor considerável.
Se por acaso virem a chama esmorecer, sinal claro de pouca oxigenação, pequem na base do primeiro freixe, que ainda deve estar amarrada, e levantem toda a lenha um pouco, permitindo uma entrada de ar por baixo mais eficiente, o que irá fazer disparar as labaredas.

Assim que se poisa o segundo molhe, é altura de começar a alimentar, do lado contrário ao do vento, a fogueira com os gravetos tamanho lápis, mais uma vez pousando gentilmente os ramos. Qualquer atirar de madeira para o fogo até este estar sustentável pode mandar abaixo o trabalho todo.

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Uma vez empilhados os gravetos médios, podemos passar então a madeira do tamanho polegar.
Assim que estes estiverem a arder, temos então um fogo sustentável, cujo calor que emite, tanto da chama como da cama de brasas que entretanto se foi formando, é suficiente para fazer evaporar a água da chuva antes que ela lhe caia em cima. A quantidade de madeira necessária para isto é directamente dependente da enxurrada, mas o processo é sempre o mesmo.

Depois disto, quaisquer troncos grossos, mesmo encharcados, podem ser encostados à fogueira para irem secando, e vão naturalmente entrar em combustão quando estiverem secos.

Assim que o fogo está sustentável, aconselha-se que movam a protecção para o lado da fogueira, para que o calor das chamas não a derreta. Um abrigo inclinado irá proteger do vento e reflectir algum calor para as costas, tornando uma estada à chuva bastante aceitável.

A grande vantagem de acampar à chuva é mesmo o facto de não ser preciso ir muito longe para buscar água boa para beber, e de raramente alguém nos vir chatear .
É então hora de juntar umas agulhas de pinheiro e fazer um cházinho carregado de vitamina C, para prevenir alguma constipação enquanto a roupa molhada seca em frente ao fogo.

Boa caça, e vêmo-nos no mato.

Inesperadamente, um mail chegou à minha caixa de correio. Parabéns, foste escolhido para participar no Fjallraven Polar.
Após aqueles momentos de incredulidade, lá caí em mim que a fantástica marca de roupa de outdoor Fjallraven me ia levar e equipar para uma aventura 200km acima do circulo polar ártico.

Cheguei a estocolmo no domingo de páscoa já tarde, e o primeiro contacto foi um alce enorme que atravessou a estrada descontraidamente à frente do taxi. Parece que  por lá estão habituados, porque o taxista abrandou ainda antes de o vermos. O hotel era o Mornington, na periferia, e tendo em conta que a segunda a seguir à páscoa também é feriado, estava tudo fechado. Um hotel dedicado a desportistas, em que além de ginásio podiam alugar montes de equipamento, de bicicletas a skis, skates e patins.
O ambiente à volta do hotel é fantástico e nem parece que estamos a um passo de uma grande metrópole, com frondosos bosques de bétula e pinheiro nordico, casas no rio e montes de embarcações prestes a iniciar a época dos lagos.
Até à hora do almoço foram chegando os outros concorrentes, e quando estavamos todos foram-nos apresentadas as pessoas que nos iam acompanhar na viagem, nomeadamente o Jerry Engstrom, director de marketing que apresenta os videos que vamos ver à frente, e o Johan Skullman, que treinou o Ray Mears em sobrevivência no ártico e que escreveu dois dos manuais de winter warfare em uso actualmente no exército sueco, portanto um personagem com uma bagagem de meter respeito.
Almoçamos todos juntos e depois fomos ter uma sessão de formação sobre sobrevivência em ambientes extremos e equipamento.

Depois de um curto intervalo fomos então levados para uma sala contígua onde nos esperavam os sacos com a roupa que iriamos passar a vestir, tudo da cueca de merino à rede interior de la, os jumpsuits, as peúgas, as botas, as 3 luvas diferentes, o polar, o ecoshell e a parka, assim como gorros vários, trapper hats, abafos de pescoço e orelhas, óculos de sol e de ski.
um saco inteiro de equipamento mais uns cabides para completar o ramalhete. Todo o material era da melhor qualidade, mesmo o que não era da Fjallraven, das botas Hanwag às luvas Hestra, a roupa interior da Aklima.
Depois de todos terem experimentado a roupa a ver se os tamanhos estavam bons, voltamos à sala de formação para aprender a combinar aquilo tudo até à hora do jantar.
A noite foi na converseta, a conhecer os novos companheiros de aventura. E depois foi cama de novo, que a alvorada seria no dia seguinte ás 6, onde iamos voar para a Noruega, de Arlanda para Kiruna e daí para Tromso.

dia 2
Terça-feira, 6 e meia da manhã e já tudo com o pequeno-almoço tomado e devidamente equipados com a ecoshell laranja (para transmitir um pouco de espírito de grupo), um autocarro esperava-nos para nos levar ao aeroporto de Arlanda, em Estocolmo.

Voamos para Kiruna, no norte da suécia, perto de onde será a linha de fim do percurso, e daí um outro vôo para o aeroporto de Tromso, no norte da Noruega.  Daí apanhamos um autocarro para uma viagem rápida até um hotel em Signaldalen, onde iriamos receber formação em equipamento e trenós. A vista começava a ser magnífica.

Chegados ao hotel já neva copiosamente e já nos esperam alguns trenós e os guias, que nos dão uma primeira mostra de como se usa a coisa, como se trava, como se curva e que – a informação mais importante desta formação –  aconteça o que acontecer não se larga o trenó, porque os cães nunca mais param. Mesmo que o trenó caia no gelo, mesmo que escorregue por uma falésia abaixo, não se larga, que os cães têm força suficiente para o puxar de volta para o caminho.

Depois de devidamente equipados com roupa para o frio que se faz sentir, que o vento e a neve provocam um efeito de arrefecimento tremendo, tiramos a primeira foto de grupo oficial.

Recebemos então instrução em como montar as novas tendas de montanha (coisinha mais robusta e fácil de montar, mesmo de luvas) e em como usar o fogão primus, as duas principais peças de equipamento que vamos utilizar no percurso. O director de marketing Jerry filma o processo.

Começa a anoitecer, é-nos entregue o resto do equipamento individual e de equipa (polainas de lã, saco-cama, kit de cozinha, colchonete, tenda, comida, machado, mora, bussola, cantil e termos, etc e tal). Toda a gente tem que (re)aprender a fazer o primming do fogão e a por aquilo a trabalhar, pois irá ser essencial ao longo de todo o percurso. As estacas novas de neve vinham com o cordel do lado errado e foi preciso desatar, mudar de lado e reatar, assim como verificar todo o equipamento antes de ir dormir, já tarde.
Sentia-se algum nervosismo no ar, mas o adiantado da hora e o cansaço não colaboraram para mais confraternização.

dia 1 da corrida.
Acordamos todos com algum nervosismo.
a minha tripa transmite-me alguma preocupação em solidariedade com o resto dos camaradas, e uma dor de cabeça começa a tomar forma, assim como uma ligeira indisposição. Tomo um pequeno almoço ligeiro, o mínimo para eliminar o factor fome, hidrato-me bem mas não bebo café, não me vá cair mal.
Todos saltam para o autocarro, e após uma curta viagem começamos a ver um pequeno bosque com centenas de cães presos ás árvores. O ruido é de doidos.

Mesmo em frente a nós a montanha, majestosa e algo assustadora. Dizem-nos que o primeiro dia será o mais duro, sempre a subir pela floresta e com o tempo a piorar. obrigadinho pelo alento, sim?
Somos apresentados aos respectivos cães e recebemos dos mushers um papelinho com o nome deles, mas só decoro o dos guias, a Foxy e o Falco, porque é com eles que é preciso comunicar. O resto só puxa.
Rápidamente começamos a  por todo o equipamento nos trenós, prender bem as coisas, ter o termo com agua quente à mão (existe um saco nas costas do trenó só para isso), um último aviso dos mushers quanto a cuidados a ter no caminho e toda a gente salta para cima do seu trenó, pisando bem os travões e libertando a âncora, mas mesmo assim o trenó ainda fica amarrado a uma árvore até nos ser dada a partida individual, que os bichos já estão histéricos. Nunca vi tanta vontade de correr.
Cada grupo de 4 pessoas, 2 de cada país, segue atrás do seu musher, que vai na frente para o caso de alguém cair do trenó ele poder parar os cães. Tomo um comprimido para a dor de cabeça que não me larga e amaldiçoo o café que não tomei.
Ao sinal de partida, soltamos a corda e levamos o primeiro de muitos esticões nos braços. Daqui para a frente não há retorno.

A subida é agreste e o caminho é estreito. A neve acabada de cair é fofa e faz tombar os trenós regularmente. Agarramo-nos bem, que os cães estão frescos e tratam de voltar a puxar o trenó ao lugar, não sem que hajam umas quedas épicas. O vento aumenta e começa a ficar mais fresquinho da neve que bate incessantemente de lado na cara, impedindo-nos de ouvir o que quer que seja.
Grande parte da manhã é a olhar para o traseiro de cães, a tentar adivinhar para onde vão virar a seguir, a desviar a cabeça dos ramos e o trenó dos troncos. De vez em quando é preciso sair para o lado e dar um empurrão para ajudar a subir, apenas para depois ser levado de rojo uns metros quando eles voltam a arrancar. Nas descidas é pior, pois o trenó ganha velocidade e é preciso travar constantemente para não ir cair em cima dos cães. Sempre tensão na corda, ou eles viram à esquerda e o trenó segue em frente ou pior, o trenó vira bruscamente e apenas tu vais em frente. De qualquer modo, mesmo que vás com a cara ao chão, continuas a andar em frente.

Não demora muito até as árvores começarem a escassear, sendo substituídas por um branco magnífico.
A um sinal dos mushers imobilizamos os carros. Já há gente parada lá à frente, deve ser hora de almoço. Como o sol nunca vai nem muito alto nem muito baixo, é o horror tentar adivinhar que horas são, o relógio biológico está todo trocado. No topo de uma pequena colina estão umas motas de neve paradas, já com alguns participantes reunidos à sua volta.
As trenós são deitados de lado para aumentar a tracção e os cães aproveitam para uma pequena sesta. Alguns de nós experimentam pela primeira vez na vida caminhar na neve quando esta nos chega à cintura, mas o cheiro a comida quente no topo da colina é um bom incentivo. Aprendemos depressa a pisar apenas nos buracos que alguém já fez com as raquetes de neve. Uma sopa quente tipo cozido do que penso ser rena, uma sanduiche e uma bebida quente. E depois o magnífico café. Sinto-me pronto para outra etapa!

O almoço passa rápido, sem grande tempo para confraternizar, que ainda há muito caminho a fazer.
Toda a gente volta aos seus carros, volta a equipar-se e a ajustar algum equipamento que se justifique, nomeadamente a Parka polar azul, que o frio a isso obriga, e estamos prontos para seguir viagem.
Em breve estamos no topo do mundo.

O tempo vai alternando entre abertas que nos permitem apreciar a paisagem magnífica e fortes nevões que nos deixam em whiteout, mal dá para ver os cães da frente e os postes com as marcas laranjas cruzadas que indicam o caminho e funcionam como estradas na neve. Por esta altura já percebemos que os cães sabem o caminho. O percurso continua por um tempo que se extende e parece que nunca mais acaba. Os grupos ganham distância entre si e o ritmo do arfar dos cães torna-se o único companheiro.

É uma vastidão branca e desoladora, horas a fio, neve a perder de vista em vales enormes, que ao passar a colina são substituidos por outros vales enormes.
De vez em quando paramos para um xixi e para ver se os cães não têm patas feridas, a precisar de uma pantufa, rehidratar e 5 minutos depois estamos de novo a caminho.
Já começa a escurecer quando avistamos as bandeiras a dizer “checkpoint”. Espero sinceramente que seja o local de pernoita, pois está tudo enregelado, cansado e cheio de fome.
Assim que chegamos o musher dá-nos indicações quanto à rotina de chegada, e são muito claras: primeiro tratar dos cães.

Os cães. Afinal eles é que fizeram o caminho todo a puxar, e merecem cuidados mesmo que estejamos todos de rastos e cheios de fome. Além disso se não comem depressa, adormecem, e se não jantam no dia seguinte não puxam. Portanto há que agir rápido.
É esticado um cabo de aço no chão, ou preso a uns postes que lá estão ou presos a uma tábua que é preciso enterrar bem na neve. Os cães são levados por ordem, um a um, o guia no fim, para a linha, onde são postos exactamente pela mesma ordem do trenó, bem afastados uns dos outros para não se engalfinharem.
A equipa divide-se: enquanto um fica a cortar umas enormes salsichas com um machado (uma por cão), o outro vai buscar água a um depósito onde esta não congela. Mais um fantástico passeio com neve pelos joelhos sem equilíbrio nenhum e com dois enormes potes de água, que se entornas tens que fazer o caminho todo de novo. O truque é ir devagar, passo a passo.
Depois de tudo cortado e da água fervida, mistura-se tudo num daqueles termos de praia, para que a carne descongele, e à qual é adicionada uma malga de ração seca. O tempo que as salsichas demoram a descongelar é o tempo de ir buscar mais água e de cortar nova dose, assim fica já o pequeno-almoço feito. Depois é alimentar os cães, dois a dois para que o mais forte não fique com tudo, lavar os pratos com neve, recolher tudo, por os casacos de neve nos cães e dizer-lhes boa noite.
De volta à cozinha, é tempo de voltar a encher um termos de praia para o dia seguinte, pois eles assim que acordam querem comer e correr.
Por esta altura já começo a olhar para a ração dos cães com um ar guloso.

Assim que o assunto canídeo fica terminado, é tempo então de tratar de nós. Montar tendas, arrumar todo o equipamento do trenó para o avançado da tenda, acender os fogões e ferver neve para o jantar, que já ninguém tem forças para uma terceira ida ao buraco da água. Mas a neve parece que leva décadas a descongelar. Já é completamente de noite, naquele azul característico da neve, quando acabamos de montar campo, prestes a desfalecer de fome.

Depois do jantar foi mesmo ir para a cama. Os cães ainda uivaram uma boa parte da noite, parece que é um ritual qualquer antes de irem dormir.
Lá fora, a neve continuou a cair a noite toda, mas eu dormi quentinho e que nem uma pedra.

dia 2 da corrida.
Começa a ficar duro.
O dia abre ás 6 da matina, que os cães já fazem uma barulheira enorme a pedir comida.
Felizmente ficou pronta de véspera e é só servir, enquanto o outro membro da equipa derrete neve para o pequeno-almoço.

Material arrumado de novo no trenó, tenda desmontada, um check-up rápido no vestuário para o frio que se avizinha e em menos de nada estamos de volta ao grande branco.

Ao longo de todo o caminho somos acompanhados por motos de neve que puxam os trenós onde vêm os repórteres fotográficos, confortavelmente deitados em peles de rena, o que não deixa de causar alguma inveja. De quando em vez fazemos uma paragem rápida para um xixi, hidratar e dar dois dedos de conversa com os mushers (que se distinguem pelos gorros garridos e pelas facas sempre à cintura, assim como os corta-vento castanhos). Contam-nos das corridas de cães, que as há de velocidade em cerca de 100km e as de endurance de 1600km, em que dormem 4 horas por noite e fazem tudo no trenó em movimento, da comida ás necessidades.
À hora de almoço, no meio do nada, há um sinal para parar a coluna, toda a gente aproveita aproveita para avançar neve adentro três metros ou menos, aquilo que a profundidade da neve deixa, para fazer as necessidades. o almoço é feito logo ali sentado no trenó com o fogão em cima da neve.
Enquanto uns fazem converseta à volta do café, não são apenas os cães que aproveitam para uma sesta rápida.

Pouco tempo depois estamos de volta ao caminho, que começa finalmente a descer, e onde se avista a treeline, um dos primeiros sinais de vida desde há muitos quilómetros. As arvores começam a multiplicar-se e surgem os primeiros sinais de civilização: um telhado de uma velha casa completamente enterrada na neve, uma ponte de madeira, o topo de uma outra ponte de metal.

Ao fim de algumas horas a descer entramos finalmente nos grandes lagos gelados, onde o caminho é muito mais estável e permite algumas filmagens e fotografias em segurança, assim como ir bebendo e petiscando em andamento, o que torna as paragens muito menos frequentes.
O tempo parece estender-se por uma eternidade, só nós e os cães, mal se ouvem os companheiros da frente gritar a chamar à atenção quando passa uma manada de renas ao nosso lado.
Após uma curva apertada num lago, que parece pequeno mas demora séculos a atravessar, vêmos finalmente as bandeiras do checkpoint da pernoita.

Acampamos na margem do lago. Não bem na margem, mas em cima do gelo junto à margem, pois uma escavadela para uma mesa hipopótamo rápidamente revela o gelo a cerca de um metro abaixo da neve. Consideramos mover a tenda mais para junto da margem mas estamos demasiado cansados e resolvemos confiar quando nos dizem que é perfeitamente seguro.
Fazemos a rotina dos cães e começamos a preparar a janta.
No centro do lago existe um buraco aberto para que possamos ir buscar água, mas é sempre caminhar com neve até aos joelhos.
Na foto abaixo, a pessoa que está mais ao longe provavelmente estaria a tirar agua. Era aquele caminho, ir e vir, pelo menos duas vezes.

Depois do jantar somos chamados para mais uma formação, desta vez sobre usar o equipamento para reforçar o isolamento térmico.
Johan explica-nos a rotina de deitar, o que vestir e como usar o que se despiu como reforço térmico ao saco-cama. Apesar da noite estar limpa, esperam-se 25º negativos.
Por esta altura já toda a gente veste a parka polar azul e os “bibs”, umas calças térmicas que se usam mesmo por cima das outras.

Estamos todos na converseta quando já noite cerrada alguém grita para olharmos para o céu.
A visão é indescritível. Magnífica. Aterradora até. O céu explode em verdes, laranjas, amarelos e vermelhos ao longo de uma linha, e nenhuma foto ou video que tivesse visto antes lhes faz justiça. É a aurora boreal.
É a pérola do norte. Ouvem-se pequenos estalidos no ar, como pipocas, mas muito suaves, e uma mão na neve sente-a a tremer, como se fosse puxada de volta para o céu.
Os aparelhos electrónicos ficam doidos por causa dos raios solares a atingir a ionosfera. Os cães uivam. O espetáculo dura cerca de uma hora e depois abranda. Alguns de nós simplesmente são incapazes de voltar para a tenda, e resolvem dormir ao relento na esperança de ver mais.
Toda a gente adormece com a sensação de ter presenciado algo único.

dia 3 da corrida.
solinho bom e uma surpresa.
Toda a gente acorda com uma estranha boa-disposição, parte pela noite anterior, parte pela rotina que se instala e que facilita a vida, parte pelo abrigo natural onde nos encontramos comparando com a noite anterior, libertando algum tempo para relaxar e esticar as costas.
Pequeno-almoço, tratar dos cães, arrumar.

Em menos de nada estamos de volta ao caminho, mas desta vez anda um zunzum no ar que nos espera uma surpresa para a parte da tarde.
A manhã é passada nisto. Lagos que parecem não ter fim, e de repente um pouco de adrenalina a corta-mato. Algumas manadas de renas cruzam-se connosco e nas margens já se vêm muitas cabanas de veraneio.

Os guias avisam que no final há uma queda abrupta onde no verão há uma queda de água, e que é logo a seguir a uma curva e contra-curva, por isso é endireitar o carro para a curva e travar a fundo para não acabar em cima dos cães.
Metade de nós vai ao tapete. um monte de jornalistas posiciona-se mesmo a jeito para capturar o momento, os malandros. Dou um toque de lado no trenó para o apontar à descida e salto a pés juntos sobre o travão, para mim correu bem.
Assim que passamos os repórteres, uma curva apertada mostra as bandeiras de checkpoint. É hora de almoço.

Ah, pois é, vamos dormir ao relento esta noite outra vez.
A malta da Fjallraven já tinha uma trincheira de neve preparada, que abriga do vento predominante, e cada equipa de 2 deve construir o seu. Há tempo ainda para uma formação sobre como fazer fogo na neve, usando o firesteel, casca de bétula e ramos de pinheiro.

O resto da tarde é dedicado ensinar o meu companheiro Grego a acender fogo com um firesteel e bétula e a construir o abrigo. Alguns optam apenas por uma parede de neve, outros cavam trincheiras, outros ainda cavam autênticos buracos na neve, que esta chega à cintura em alguns lugares. Como nos é permitido usar o abrigo de emergência azul, que não passa de um impermeável, optamos por 3 paredes de neve cobertas com o pano e com uns ramos de espruce a servir de chão à boa maneira inuit.
Um pinheiro morto ali ao lado leva apenas uns empurrões o tombar, e proporciona-nos a viga-mestra do abrigo e toda a lenha que vamos precisar para a noite.
Contamos por os sacos a tapar a entrada e passar uma noite excelente, pois mesmo durante o dia nota-se muito a diferença de temperatura no interior do abrigo.

À hora do jantar somos reunidos num fogo comum, onde uma série de pessoas nos veio visitar para entrevistas às respectivas cadeias televisivas e jornais.
Os locais trazem-nos bolinhos e café, e perco-me à conversa com o dono de uma cadeia de televisão norueguesa que veio aproveitar o passeio.
Toda a gente relaxa um pouco, pois está-se bem à volta do fogo.
Chega a hora de ir dormir, chuta-se neve para cima do fogo e cada equipa recolhe aos seus abrigos.
Faço a rotina do relento, com os bibs por baixo do saco-cama e a parka sobre as pernas, com os pés enfiados no capuz, mas começo a achar que é excessivo e ainda nem me deitei. Parece-me mais quente no abrigo que nas duas noites anteriores na tenda.
De barriga cheia e quentinho, tombo que nem uma pedra.

4º e último dia da corrida
a festa e o lago gelado

Toda a gente acorda bem-disposta depois de uma noite quentinha. Os abrigos, uns mais elaborados que outros, proporcionam um descanso mais quente que nas tendas, ainda que a -15ºC.

Há uma sensação estranha no ar, de ser o último dia.
No entanto, hoje regressa a rotina dos cães, que não deixa tempo para grandes meditações metafísicas.
Depois de um rápido pequeno almoço, há que os adestrar, que ontem dormiram a tarde toda e devem estar sedentos de corrida.

Ainda há tempo para um cafezinho antes de abalar, já com tudo arrumado e os abrigos desmontados.
Explico ao Johan como fazer o sorriso 32, e tiro uma foto que vai direitinha para o meu currículo de campo, pois não é todos os dias que nos cruzamos com gente deste gabarito.

Em menos de nada estamos de volta à placidez dos lagos, com os curtos intervalos pela mata.
Demasiado rápido para ser verdade, lá ao fundo já se avistam as bandeiras da linha de chegada.
Custa a acreditar que está a chegar ao fim.

Ainda não está tudo terminado. É preciso levar os cães ás carrinhas de transporte que os esperam do outro lado do campo e depois regressar a puxar o trenó, para sentir pela primeira vez o que os cães sentem. Não é assim tão mau, aquilo desliza muito bem.

Depois de tudo entregue, encontramo-nos todos na linha de chegada para a última foto de grupo.

Lá atrás, naquele tipi enorme, espera-nos o almoço. Mas ainda não. Johan diz-nos que temos que prestar provas do que aprendemos, e que para ganharmos o direito ao almoço, temos que acender um fogo. Tenho o bolso cheio de casca de bétula, por isso vou ao pinheiro mais próximo apanhar uns raminhos secos e faço um bocado de tempo enquanto toda a gente corre a ir procurar material.
“a aventura não acaba até estarmos em casa”, repete Johan.
Fogo aceso e apagado e lá nos dirigimos ao tipi, onde nos espera um salmão com natas.

Do lado de fora acenderam um fogo grande, e há peles de renas no chão para manter o traseiro quente enquanto acabamos o almoço.
Andreas, o patrão da Fjallraven, diz-nos o programa das festas e qual do material é que vamos poder levar para casa. Uma salva de palmas para todos e agora é agarrar no material e dirigir-mo-nos à casa grande para um merecido descanso.
Somos recebidos por um local que nos dá uma breve apresentação do campo. Aqui é a casa, jantar em baixo quartos em cima, ali são as sanitas, ali é a sauna, e espetadas na neve à porta de cada uma delas estão montes de cervejas. Sirvam-se que há lá mais dentro e nós vamos repondo.
Enquanto fazemos turnos para o WC, ficamos na conversa no alpendre. pomo-nos um pouco mais à vontade e vamos virando uma cerveja.
Sabe tão bem que até deixamos as moças usarem primeiro a sauna.
Para descanso dos nossos leitores não há fotos da sauna. Mas é o costume: 50 a 80ºC  lá dentro e um vapor que queima, bancos corridos, toalhas e agua gelada pela cabeça abaixo, parece a praia em Sesimbra no verão. Depois de todos lavadinhos a balde e cheios de calor, vamos então ao lago.

São uns 150 metros pela neve e depois pelo gelo até ao buraco no centro do lago. Quando lá chego já não sinto os pés. Curiosamente não me custa nada entrar, pois não há choque térmico. É descer as escadas e mergulhar a cabeça. Mas quando saio farto-me de gritar, perante os aplausos dos locais do outro lado do lago que gozam o prato. Depois o corpo começa a libertar um calor enorme e regresso quente à sauna, não fora os pés continuarem tão gelados que já não os sinto desde que saí da sauna.

Limpos e vestidos reunimo-nos para um jantar conjunto e uma pequena festa na casa-bar.

No dia seguinte arrumamos o equipamento, recebemos os diplomas, e entre choros e abraços, despedimo-nos à medida que cada um vai ficando para trás nos aeroportos que os vão levar de volta a casa.
Ainda me esperavam 8 horas de viagem de regresso, mas as recordações ficam para sempre.